Luz de Setembro
Galeria do paço/cdc paço, u. minho, braga, 2022
© Créditos fotográficos: Joana Patrão
Luz de Setembro (2021-...)
Vista da instalação: óleo sobre tela, oito telas, 120 x 200 cm cada.
Luz de Setembro recorre à pintura para refletir sobre a representação de uma ideia de Amor enquanto acontecimento duradouro, enquanto performance no tempo.
O projeto tem como ponto de partida uma situação de incomunicabilidade entre duas personagens que se amam – uma figura cuidadora e uma que necessita de cuidados. Nos limites desta interação, os gestos de manutenção para com a casa sublimam-se em declarações de amor, de fidelidade a uma construção. Recorre-se à ficção para criar um acontecimento amoroso, que se manifesta através desse diálogo de manutenção estabelecido entre um corpo que cuida e a arquitetura de uma casa.
Através de pinturas que evocam tanto a escala e a vocação narrativa da pintura histórica, como a ambição de magia por detrás do gesto íntimo, repetitivo, da prática ex-votiva, reflete-se sobre as tensões inerentes à representação do drama amoroso: como traduzir o seu vínculo com o tempo, a sua tenacidade? Como representar o Amor enquanto trabalho, para lá do milagre do encontro? Como transcrever esse ritual de declarações intrínseco à promessa de eternidade do compromisso amoroso?
Luz de Setembro propõe o Amor como casa caleidoscópica, onde o espaço e o tempo se acercam do infinito a partir dos gestos do corpo, dos futuros que este não se cansa de repetir. Nesse sentido, esta exposição assinala apenas o começo deste projecto: daqui para a frente, todos os anos, pelo menos uma nova pintura será produzida. Mais uma nova parede para a casa, mais um gesto de fidelidade a essa construção. Enquanto for possível.
Luz de Setembro foi produzido com o apoio do Programa Garantir Cultura, promovido pela República Portuguesa - Ministério da Cultura, e em colaboração com a Universidade do Minho, a Rede Casas do Conhecimento, a Appleton - Associação Cultural, o Parco archeologico di Pompei e a Fondazione Giorgio e Isa de Chirico.
Texto da folha de sala: Tiago Madaleno: a pintura pensa o amor duradouro, de Marta Mestre
Livro de artista: Os fogos da casa
© Créditos fotográficos: Joana Patrão e Tiago Madaleno
Luz de Setembro (2021-...)
Vistas da exposição
© Créditos fotográficos: Joana Patrão e Tiago Madaleno
Luz de Setembro (2021-...)
Óleo sobre tela, oito telas, 120 x 200 cm cada.
Títulos das obras por ordem de aparição: 1) Interior, 2) Superfície, 3) Papel de parede, 4) Porta, 5) Janela 6) Túnel, 7) Quarto, 8) Canto.
© Créditos fotográficos: Joana Patrão e Tiago Madaleno
Luz de Setembro (2021-...)
Pormenores
© Créditos fotográficos: Joana Patrão
Alçado (2022)
Óleo sobre tela, 31,6 x 45 cm
Ficha técnica:
Conceito: Tiago Madaleno
Apoio à montagem: Joana Patrão e Bruno Dias - Galeria do Paço
Parceiro institucional: República Portuguesa - Ministério da Cultura (Garantir Cultura)
Outros parceiros: Universidade do Minho, Rede Casas do Conhecimento, Appleton - Cultural Association, Parco archeologico di Pompei, Fondazione Giorgio e Isa de Chirico.
Agradecimentos especiais: Prof. Dra. Joana Aguiar e Silva, Thays Cunha, Júlia Costa, Daniel Vieira da Silva, Marta Mestre, António de Castro Caeiro, Federica Polenta, Vera Appleton, Leonor Lloret, Joana Patrão, Adriana Romero, Inês Oliveira, Daniel Fonseca, Jorge Morgado, Paulo Madaleno, Fátima Madaleno e Graça Madaleno.
O lado de fora da mão (2022)
Leituras via Live streaming| de 16 a 30 de Setembro 2022, a partir das 21h30.
Revista Interact #37 - INDIVIDUAR A MEMÓRIA: PENSAR COM BERNARD STIEGLER, org. por Luís Lima e Alexandra Martins.
O lado de fora da mão parte de uma ficção em torno de uma parelha amorosa que enfrenta uma situação de crise, narrativa que alimentou o projecto Luz de Setembro (2021 - …). Após um dos elementos ter ficado enfermo, a comunicação entre eles torna-se cada vez mais difícil. Tentando reagir a essa adversidade, o outro elemento, transformado na figura de um cuidador, persiste na repetição dos mesmos gestos do quotidiano, como se estes fossem formas de manutenção, declarações de fidelidade para com o projeto amoroso.
O lado de fora da mão é um conjunto de leituras do material preterido durante a construção dos 30 sonetos que perfazem o livro de artista Os fogos da casa (2022).
Longe das amarras que a estrutura do soneto impõe, este texto não editado é composto pelos erros, pelas dúvidas, pelas anotações, pelas rasuras, pelas palavras soltas, pelos esquissos rejeitados, numa exposição de fragilidade que, por vezes, se assemelha a um fluxo de consciência. Se por um lado, alude ao momento em que o personagem compõe os poemas, ao tempo de trabalho neles implicado, por outro lado, através da cadência da leitura e da persistência nas suas repetições, do vínculo do texto ao gesto físico de o dizer, este transforma-se numa espécie de mantra, num ritual de dedicação, numa reza quotidiana que o personagem cuidador oferece à figura amada.
Numa alusão simbólica ao título de onde surge este projeto, estas leituras ficarão acessíveis apenas durante a janela temporal do mês de Setembro, como se só com essa brecha de luz se pudesse espreitar o corpo a repeti-las, abrindo-se assim a possibilidade do ritual íntimo se tornar público.
Desde que esta edição da "revista Interact" é lançada, a 16 de Setembro, até ao dia 30 de Setembro, durante todos os dias, a partir das 21h30, o corpo e sua voz poderiam ser encontrados a realizar a sua rotina de leitura via live streaming. Não foi produzido qualquer registo, gravação, não havendo possibilidade de aceder posteriormente nem às leituras nem ao texto que as origina. Prescinde-se do arquivo pela necessidade de estar presente. Ou melhor, na ausência de um arquivo externo, o arquivo reside unicamente no corpo de quem executa a performance, como numa experiência de oralidade.
Só a performance assegura a existência do texto. Desta forma, este adquire um tempo para existir, para ser ouvido. Ser efémero é sua condição inevitável. Para o recuperar, ao corpo resta repetir-se, saber desaparecer nesse trabalho, ser apenas a voz de uma prece, persistir, ir encontrando nesses gestos o alento que lhe permite reforçar um compromisso. Diariamente. É a presença e dedicação do corpo à tarefa da leitura que transformam esse momento numa confidência, numa partilha de intimidade.
Os restos, a voz de Eduarda Neves