Clepsidra
Serralves, porto 2017-2018
© Créditos fotográficos: Tiago Madaleno
Lançamento (2016)
Vista de instalação: óleo sobre tela, 25,6 x 19 cm
Clepsidra reflete acerca da relação entre a fotografia e a temporalidade invocando para tal a presença do corpo no processo de produção das imagens fotográficas. Recorrendo a uma instalação com diversos dispositivos que exploram o uso desviado do vocabulário fotográfico, o projeto desenvolve-se através do questionamento das condições de visibilidade da fotografia, evidenciando os processos utilizados para a produzir e recorrendo ao índice como ferramenta de trabalho, tal como apontado por Rosalind Krauss no ensaio bipartido Notes on the Index: Seventies Art in America Part 2 in "October", Vol. 4 (1977).
Clepsidra parte de uma narrativa em forma de performance, uma viagem sobre o gesto de perder imagens: um homem munido de um dispositivo mecânico - que canaliza a energia produzida pelos seus passos para o acender de uma lâmpada, presente na parte de trás das suas costas, no interior de uma mochila - engendra uma viagem pelo Porto onde tenta desenhar uma imagem com o gesto de caminhar. Ao mesmo tempo, no interior da sua mochila, a mesma imagem que o homem procura desenhar encontra-se esculpida em sabão, num compartimento transparente com água. Através da luz produzida pelo movimento do corpo caminhante pelo espaço, a forma escultórica vai sendo visível, mas o balançar que provoca quando se projeta para a frente desencadeia também a sua diluição na água. Encena-se assim uma espécie de cinema arcaico, que implica a presença do corpo na Imagem, em que a luz contribui para a sua visibilidade e para a sua desaparição.
Utilizando a narrativa como base, Clepsidra apresenta-se como uma alegoria sobre o processo de produção das imagens fotográficas. Através de uma abordagem desviada, que se vincula a um léxico fotográfico - a escrita com luz, o tempo de exposição, os movimentos de desaparecimento e aparecimento das imagens presentes no momento de revelação ou ampliação – pensam-se as possibilidades da fotografia enquanto prática, a sua relação com o tempo e a perceção das imagens enquanto eventos, assim como o papel do corpo enquanto agente na construção das imagens.
Este projeto foi desenvolvido com o apoio do prémio Novo Banco Revelação 2017, promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves, da Manuel Guerra ICC, Lda e da MNL - Manuel das Neves Loureiro, Lda.